terça-feira, 23 de março de 2010

Homo Descaradus

Minhas amigas,
Venho hoje falar-vos de uma constatação muito significativa que nos últimos dias veio alterar o rumo de todo o meu extenuante trabalho de campo. Ao contrário do que se julgava, o Homo Descaradus não é uma espécie em extinção. Ele existe e resiste ainda e sempre à pressão demográfica do Homo Timidus.
O tipo de abordagem que este espécime utiliza é o que a Escola de Chicago denomina de 'quebra-gelo'. O 'quebra-gelo' não utiliza subterfúgios: vai directo ao assunto usando sempre o sentido de humor como trunfo. Pode, inclusivamente, chegar ao ponto de negociar os mais ínfimos pormenores da interacção social (e sexual) que se irá desenrolar. A taxa de sucesso do Homo Descaradus é de difícil determinação, o que julgamos dever-se ao facto de não apelar a ideias românticas, tal como acontece com o Homo Timidus.
Como sempre, um case study para ilustrar este tipo de homens.
Terreno: uma qualquer rua da cidade. Condições metereológicas: indiferentes. Actores: ele e ela. Resumo da situação: depois de se ter feito a um convite para jantar, ele adianta peremptoriamente à laia de brincadeira: 'a seguir vamos ter sexo, não é?'. Ela ri e deixa cair um "Ah! Pode ser."
Homo Descaradus 1, Ela 0.
A fase da negociação.
Ela: "Aviso-te já que não faço os pelos das virilhas!"
Ele, quase em pânico: " Mas... mas são muito grandes?"
Homo Descaradus 1, Ela 1
Ele: "Olha eu estou muito gordo! Vês, vês?" pergunta abanando a barriga.
Ela:" Não faz mal, não faz mal." diz ela desconcertada a olhar para a barriga trémula.
Homo Descaradus 2, Ela 1
Ele:" Vais-me olhar nos olhos?"
Ela:" Eu olho sempre nos olhos!"
Bingo 2 points equal.


Aqui levanta-se um problema epistemológico, pois julgo ser de toda a pertinência científica desenvolver uma taxonomia para o objecto do desejo, pois este tipo de interacção revela-se-nos uma interacção dialéctica.
E é aqui que eu encontro um desafio científico. Poderá o Homo Descaradus ser "batido" pela Mulier Descaradus?

2 comentários:

Sra D. Aurora disse...

Julgo que o case study que apresentou vem demonstrar que sim, a Mulier Descaradus tem as competências necessárias para desarmar o Homo Descaradus. Sentido de humor, lata e expectativas quase nulas fazem deste espécime feminino um adversário temível. May the force be with her.
Mas, por favor, Sra. D. Judite, vá-nos mantendo ao corrente da sua investigação. Há lá coisa mais emocionante que acompanhar de perto uma pesquisa científica como a sua.

Sra D. Susette disse...

Senhora Dona Judite, partilho das suas convicções.
Também eu tenho ao longo destes anos, humildemente, vindo a desenvolver o meu trabalho de campo tão árduo.
Noites longas cara colega, noites longas de prospecção e análise de dados...
E é, fectivamente, também minha a convicção de que a mulier descaradus embora de porte pequeno e compleição mais frágil, se encontra, em compensação, dotada de um córtex e rede neuronal mais ágeis e complexos.
Curiosamente, parece que o género feminino da espécie, nos últimos séculos, tem vindo a demosnstrar uma capacidade evolutivo-adaptativa ao meio que o género masculino parece ter maior dificuldade em desenvolver...
Agora, quanto à questão colocada "poderá o Homo Descaradus ser batido pela Mulier Descarados?".
Mas em que termos é que poderá ser colocada essa questão... Qual o contexto...? as armas escolhidas...?
É que há aqui toda uma série de... todo um conjunto... variáveis a considerar...o físico, o psíquico, o químico, a capacidade performática....