domingo, 2 de julho de 2023

A Palmeira


Há uns anos fui passear ao jardim Botânico tropical de Belém.
Olho para esse Verão e o meu olhar enche-se de uma luz amarela quente, mistificada pela nostalgia de qualquer coisa muito anterior ao Verão, já que, esse, foi passado à espera do que nunca chegou.
Deitada, dia após dia, sobre a areia, observando a pele tingir-se lentamente de uma cor que nunca foi realmente minha.
No canto da praia, abraçada pelo anfiteatro das rochas olhando o mar,
chorei ao sol de uma forma que nunca julguei possível entre as pessoas.
Vivi nesse jardim de plástico velho e beatas secas enterradas na areia, esperando.
Dormitando, chorando, bebendo cafés.
Mas no meio do jardim uma palmeira radiosa, cujas ramagens pesadamente floridas flutuavam na corrente invisível do ar marítimo de Belém.
Como quis ser essa palmeira tão intensamente harmoniosa, resplandecente.
Hoje, sinto-me mais próxima  daquele jardim, rodeada de espécies ligeiramente exóticas e silenciosas, retirada da agitação bacoca do asfalto e das novelas tontas dos humanos.

sábado, 1 de julho de 2023