segunda-feira, 31 de maio de 2010

Entre o rol e a voltinha.....

Mais uma voltinha.....
Outra vez não tenho casa e não tenho trabalho.
Tenho uma mãe que teima em levar uma zanga para a frente que já não faz qualquer sentido.
Tenho um pai ausente que está agora a experimentar ser presente e não se está a sair nada mal.
Tenho uma relação para a qual ainda não encontramos um nome, mas isso também não interessa para nada porque ambos sabemos que tudo muda a qualquer momento.
Tenho amigas e amigos que cada um à sua maneira me fazem sentir que não estou assim tão fodida, ou melhor, que não estou fodida sozinha.
Tenho amigas longe que estão sempre tão perto, e tenho amigas perto que estão sempre longe.
Tenho uma gata chata e com poderes sobrenaturais tais como miar durante uma hora inenterruptamente mas que adoro e me acompanha já à alguns anos nesta maluqueira que é a minha vida entre casa e casa e casa.
Tenho um punhado de vestidos vintage e umas bijuterias de plástico sem qualquer valor mas que me fazem mudar de personagem a cada dia e ser quem me apetece conforme a inspiração.
Tenho uns quantos livros e milhares de fotocópias que teimo transportar de casa em casa porque acho que é sempre na nova casa que vou ter tempo para reler aquilo tudo e até tirar notas.
Tenho um conjunto de móveis e objectos que vou coleccionando e guardando religiosamente e prezo mais os encontrados no lixo do que os do Ikea.
Também tenho muita música, uma mala de viagem cheia, e agora um disco rígido externo que vou enchendo vagarosamente com pirataria cibernáutica.
Tenho estas coisas todas....
...tenho-me a mim própria..
..e sinceramnete não sei como acabar esta posta.

(será que estou em balanço??)

quinta-feira, 27 de maio de 2010

E por falar em aniversário..

Faço 33 anos em breve.
Não tenho a vida que sonhei à 12 anos atrás mas tenho a vida que escolhi. Que fui escolhendo a cada pequena decisão.
Tenho uma vida quase nómada. Já passei por muitas casas nesta cidade (e noutras cidades onde passei brevemente) e já tive toda a espécie de trabalhos.
Neste momento sinto-me daqui. Sinto-me da minha mãe, e agora do meu pai também;das minhas amigas e amigos que me povoam a alma os dias e as noites; dos meus amores e desamores que me devolvem o espelho daquilo que quero e não quero ser e daquilo que sou na realidade ou que vou sendo à maneira que vou crescendo; dos meus amantes fortuitos, ou não, e a forma como cada um à sua maneira me faz descobrir partes do meu corpo, do meu ser e da minha matéria e que se abrem nestes encontros.
Ultimamente olho-me muitas vezes ao espelho e estranhamente ele devolve-me partes belas de mim as quais eu não vejo sempre nem tenho memória.
Sinto-me daqui, deste rio e deste mar, destes telhados e destas ruas infectas, destes dias de chuva e destes dias de sol.
Às vezes sinto-me liquida e acho que me derreto e me fundo numa matéria que não sou eu, outras vezes gasosa e acho que vou desaparecer e evaporar-me no ar e aí quero ser uma nuvem e fugir daqui para fora e outras vezes sinto-me sólida e isso é bom.
Gosto de ficar em silêncio, sossegada a escutar o meu corpo e a minha alma e finalmente estou a aprender a estar sozinha e mais outras tantas coisas acerca de mim.
Não posso dizer que sou feliz, mas também não posso dizer que sou infeliz e muito menos dizer que a felicidade existe, pelo menos como condição permanente nas nossas vidas.
Vou fazer 33 anos e não tenho a vida que desejei....
......ainda bem porque na realidade tenho a vida que fui escolhendo e faz de mim a pessoa que sou.

1 Ear

quarta-feira, 26 de maio de 2010

relembrando a leslie

. If I get raped it must have been my fault
. And if I get bashed I must have provoked it
. And if I raise my voice I'm a nagging bitch
. And if I like fucking, I'm a whore
. And I don't wanna I never wanna
. (you never wanna, you never wanna)

. And if I love a woman
. It's because I can't get a real man or
. It's for his enjoyment
. And if I ask my doctor too many questions
. I'm neurotic and
. I need pills
. But I still can't get safe birth control
. While some fucker's roaming the moon


excerto da letra de "1 Ear", back from the eighties
(e, by the way, how different is it now?)

a arte da fuga

foto de Fritz Goro

de que andas tu a fugir?

andamos todos a fugir de qualquer coisa (do pai, da mãe, da memória do tempo em que éramos pequenos ou nem por isso, do primeiro amor, do último amor ou do amor simplesmente, da felicidade, da morte em vida, da vida à beira da morte, do falhanço e da vergonha, de espelhos que nos devolvam a imagem do que somos ou do que queremos ser ou daquilo que nunca seremos).
e afinal a pergunta de que andas tu a fugir? é mais funda do que poderia imaginar.
afinal a pergunta fica a cozer dentro de ti, umas vezes em lume brando, noutras num lume alto que quase queima.
e eu não posso mais do que assistir em silêncio à fogueira que te consome.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Aniversário

Decidi que vou fazer exactamente 39 anos.
Nem nova nem velha
Nem bem conservada nem mal
Nem gorda nem magra
Nem alta nem baixa
Só eu com e-xac-ta-men-te 39 anos de idade.
Não mais roupas a armar ao-que-eu-gostava-de-parecer
Não mais atitudes e coisas a dar ares daquilo-que-eu-queria-ser
Só eu, aos 39 anos de idade.
E o resto, vai tudo borda fora.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

quarta-feira, 12 de maio de 2010

sexta-feira, 7 de maio de 2010

ôje


ôje

Há dias estranhos como o de hoje.

Neste país, que é ainda o meu e que nunca o foi, o dia nasceu cinzento.

Os dias nascem como são para ser, vaticinados, sem progressão, sem diferença. Uma amálgama de algodão cinza com uns laivos azulados impotentes.

Penso em tudo ao mesmo tempo sem me segurar a nada.

O meu maior desejo neste momento (se é que tal existe na calma e desenfreada concorrência de desejos dentro de mim) é reunir. Reunir as coisas, os papéis, escritos antigos e escritos não escritos, reunir a intenção. Reunir-me com os amigos, com Portugal e, já agora, se der, reunir-me a mim.

Não encontro posição e tudo parece estar suspenso, à espera.

Penso em todas as terras onde andei e em todas onde nem sei que vou andar. Nas palavras, sentires e copos vazios deixados por esse mundo fora. Não sei bem o que fazer com tanta memória mas não a quero ver a tapar o porvir.

Penso muito em vocês, abrigadas, e noutros e noutras menos abrigados mas a precisar do mesmo.

Penso no que me contam quando vou à terra e na estranheza de sair e entrar dessa história, tentando sempre fazê-lo como se nunca dela tivesse saído, o que é verdade e também é mentira.

Penso em conversas tidas com a sódona Pilar e outras sódonas amigas desta vida sobre a e/imigração.

Penso no que todas estas milhas com os senhores da easyjet (e mais raramente da Britsh) irão deixar em mim.

E ao mesmo tempo, penso na borbulha que tenho no queixo, no que será feito do trance progressivo que me empurrou algumas noites sem fim e a que horas vou à natação. E, e, e.

As questões sobre o sentido da existência agitam-me no quotidiano, tal como os recibos verdes me entram no existencialismo. E entretanto, às vezes lavo a loiça.

Penso no Zé Mário Branco, no FMI, no Mário Viegas e na conta do gás.

Vejo as imagens da Grécia em revolta e os conservadores a ganhar lugares no parlamento em Inglaterra. Ouço dizer que Portugal vem a seguir e vejo o meu país numa lista de ratings, palavra essa que nenhum agricultor que recebeu subsídios para não produzir, deveria ter de perceber.

É tudo confuso, é tudo muito.

É tudo pessoal mas também é tudo político.

Perfilam-se à minha frente opções, escolhas, decisões, hipóteses. E ninguém me vai dizer o que fazer, ah pois não! É que em mim ninguém manda. Mas, foda-se, será que não mesmo??? E se sim, como se faz, para ser cada vez mais livre?

E se eu acreditasse no papa (ou no papá), na virgem de Lourdes, no PS ou no PC, no tarot, na bola, na minha mãe ou no Camané? Só de vez em quando, só um bocadinho. Só para descansar de tanta opção...

E como se faz para se dizer o que se pensa? E, ainda antes disso, para se saber o que se pensa? E para não encarneirar?

E isto tudo a rir, porque é assim que deve ser. E porque a vida é uma aventura boa e eu não queria outra que não fosse a minha, quanto mais não seja porque não haveria de saber o que lhe chamar.

E mais esta de mim para mim, de mim para vocês, de mim para todas as mulheres do mundo...

E agora, especialmente para a Dona Celeste: Kátia Flávia, a Godiva do Irajá, Fernanda Abreu Indahouse!

A Thing of Beauty is a Joy Forever

A thing of beauty is a joy for ever:
Its loveliness increases; it will never
Pass into nothingness; but still will keep
A bower quiet for us, and a sleep
Full of sweet dreams, and health, and quiet breathing.
Therefore, on every morrow, are we wreathing
A flowery band to bind us to the earth,
Spite of despondence, of the inhuman dearth
Of noble natures, of the gloomy days,
Of all the unhealthy and o'er-darkened ways
Made for our searching: yes, in spite of all,
Some shape of beauty moves away the pall
From our dark spirits. Such the sun, the moon,
Trees old, and young, sprouting a shady boon
For simple sheep; and such are daffodils
With the green world they live in; and clear rills
That for themselves a cooling covert make
'Gainst the hot season; the mid-forest brake,
Rich with a sprinkling of fair musk-rose blooms:
And such too is the grandeur of the dooms
We have imagined for the mighty dead;
All lovely tales that we have heard or read:
An endless fountain of immortal drink,
Pouring unto us from the heaven's brink.

Nor do we merely feel these essences
For one short hour; no, even as the trees
That whisper round a temple become soon
Dear as the temple's self, so does the moon,
The passion poesy, glories infinite,
Haunt us till they become a cheering light
Unto our souls, and bound to us so fast
That, whether there be shine or gloom o'ercast,
They always must be with us, or we die.

Therefore, 'tis with full happiness that I
Will trace the story of Endymion.
The very music of the name has gone
Into my being, and each pleasant scene
Is growing fresh before me as the green
Of our own valleys: so I will begin
Now while I cannot hear the city's din;
Now while the early budders are just new,
And run in mazes of the youngest hue
About old forests; while the willow trails
Its delicate amber; and the dairy pails
Bring home increase of milk. And, as the year
Grows lush in juicy stalks, I'll smoothly steer
My little boat, for many quiet hours,
With streams that deepen freshly into bowers.
Many and many a verse I hope to write,
Before the daisies, vermeil rimmed and white,
Hide in deep herbage; and ere yet the bees
Hum about globes of clover and sweet peas,
I must be near the middle of my story.
O may no wintry season, bare and hoary,
See it half finished: but let Autumn bold,
With universal tinge of sober gold,
Be all about me when I make an end!
And now at once, adventuresome, I send
My herald thought into a wilderness:
There let its trumpet blow, and quickly dress
My uncertain path with green, that I may speed
Easily onward, thorough flowers and weed.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

e esta é para todas nós



tropecei neste video e lembrei-me do poema do Keats que a minha mãe recitava desde sempre: a thing of beauty is a joy forever.
e nós merecemos toda a beleza e alegria.

segunda-feira, 3 de maio de 2010