sexta-feira, 26 de março de 2010

Eu

Eu ando maluquinha dos cornos.
No espaço de uma semana, ora me sinto bem e reconciliada com a minha vida, ora me sinto inquieta, triste, frustrada e perdida.
A única coisa constante no meio disto tudo (acho eu agora) tem sido o meu Amante. Esse sim, uma linha lisa, recta, tão segura quanto a linha de um ecrã de hospital . Acho eu agora.
Eu zango-me, apaixono-me, zango-me, apaixono-me e volto a zangar-me outra vez.
Eu, que ando para aqui a batalhar aos anos pela minha sanidade, estou afinal mais maluca e descompensada do que nunca.
Eu, a intelectual, a introspectiva, a inteligente, não pego num livro há meses, papo televisão da merda ás toneladas e olho de cinco em cinco minutos para o telefone a ver ser um gajo que tem o nono ano e vive de vender carros, me manda uma mensagem.
Eu, a mulher autónoma, lúcida e independente, a mente aberta e limpa de ideias feitas, passo os dias em casa sem fazer a ponta de um corno, obcecada com a depilação e a hidratação da pele e a descoloração dos pêlos, com a mente encharcada em preconceito, presunção e auto-compleição.
Eu, a-que-sabe-tudo, a que teve trezentos mil insights por milímetro quadrado de pensamento, ando completamente, deprimida e ao mesmo tempo a negar a minha depressão, confundida e ao mesmo tempo a negar a minha confusão, desiludida e ao mesmo tempo a negar a minha desilusão.
Porque eu, raios me partam isto, ainda nem sequer cheguei ao básico:
Não me amo, não me aceito, ainda não sou capaz de me perdoar por aquele enoooorme, graaaande, giganteeeesco pecado que já nem sei qual é e do qual já perdi a vista há séculos, e cá apenas ficou esta ferida e esta histérica a bater-me, e a fritar-me os cornos, mesmo quando já não posso mais, mesmo quando já, de rojo e sangrando abundantemente, rogo por misericórdia, mesmo quando morta, mesmo quando enterrada, mesmo quando podre desfazendo-me em bocados, mesmo quando já não eu.

Bem. Parece que agora já me sinto melhorzinha. Já passou, isto.
Deixa-me lá ao menos ler uma linha de Álvaro de Campos para não parecer tão mal. Ai não, espera, com um parágrafo de Zizek, já ninguém me aponta o dedo.
Não há nada como desabafar, realmente.
Isto é tudo muito relativo, muito relativo.

3 comentários:

Sra D. Aurora disse...

A Sra D Susette anda a deixar-me sem palavras.

Sra D. Pilar disse...

e palavras para quê? a artista é portutesa e saiu-lhe um 4 de espadas. Foi um prazer partilhar consigo esta noite de abrigo, sodonasusette, que se arrepitam por muitas mais.

Sra D. Aurora disse...

diz que se repete já hoje, Sra D Pilar, em versão excursão cultural. Eu levo um termos com cê-gripe, por causa das tosses.