segunda-feira, 22 de março de 2010

estava à procura de não sei o quê


estava à procura de não sei o quê na internet e encontrei esta fotografia do Peter Stackpole. Chama-se Santa Fe Fiesta e foi tirada em 1949. No meio de centenas de imagens, parei nesta. No meio da centenas de imagens espalhadas neste espaço onde se gastam tantas horas, descobri o retrato da minha mãe quando era pequena. Mentira. Esta não é a minha mãe. Mas podia ser. O mesmo sorriso, o mesmo olhar, o mesmo cabelo, um vestido igual a tantos outros que a minha-mãe-quando-criança-usava. Em 1949 a minha mãe tinha 3 anos e vivia em São Tomé, tomava banho na praia do pantufo, invejava o cachimbo da lavadeira e era feliz. Em 2010, a minha mãe já não está aqui há muito tempo e descubro-a no retrato de uma criança que não é ela. Se calhar só se morre quando desaparece a última pessoa que se lembra de nós. Nem que seja para nos ver onde não estamos.

2 comentários:

Sra D. Susette disse...

Minha querida.
Respondo não sendo capaz porque particularmente hoje, sinto muito, mesmo muito, a falta da minha mãe.
Das suas mãos acariciando-me o cabelo e olhando para mim com um amor que nunca encontrei em mais lado nenhum. Dizendo-me que eu tinha a pele mais suave do mundo e outras coisas tão doces que eu preciso tanto.
Meu Deus, a falta que ela me faz hoje.
A minha mãe, trago-a todos os dias no corpo, por dentro e por fora.
As sua amigas e toda família nunca se cansam de dizer quão parecida sou com ela.
Ás vezes é bom de ouvir, mas outras...

Sra D. Aurora disse...

Acredite, Sra D Susette, que compreendo muito bem tudo o que diz.
É uma perda que nunca desaparece e fica cravada no nosso corpo, um buraco no muro que nada nem ninguém pode tapar.
Não há consolo que salve, só a estranha habituação à ausência, uma espécie de resignação que quase nos faz acreditar que está finalmente tudo tranquilo. Até que chega o dia, um dia como esse que está a passar, em que é tudo outra vez fresco e cheio de dor e insuportável. Resta esperar que esse dia acabe e que o seguinte seja a quase normalidade que aprendemos a viver desde o dia do seu desaparecimento.
Um abraço muito grande para si.