domingo, 10 de outubro de 2010

Homo Autistus

Queridas amigas e apreciadas colegas de investigação, sra dona judite que por momentos temeu que por estes lados se tinha abandonado a causa cientifica, um grande bem haja a todas.

Venho dar um pequeno e modesto contributo ao estudo laborioso e valioso da sra dona Judite, sobre os diferentes grupos ou características dos homo que nos rodeiam.

Depois de vários dias de intensa observação e registo, julgo que consegui por fim identificar claramente o Homo Autistus, o que considero pode ser útil no sentido em que ao ser passível de identificação, evita que se caia em trabalhos ou esforços inecessarios quando interagirmos com sujeitos desta tipologia.

O Homo Autistus tem uma capacidade inesgotável para falar. E consegue falar sozinho durante muito tempo sem necessidade de qualquer esforço de função fática da linguagem por parte da pessoa (ou pessoas) com quem, supostamente, está a comunicar. Esta característica pode ser útil para quem interlocutar com ele, pois tem tempo para pensar nas suas coisas e retomar a conversa quando lhe apeteça.

O Homo Autistus gosta de ouvir-se, gosta de brilhar no social, de ser considerado inteligente e melhor que todos os demais homo, gosta de falar mais alto e mais grave para fazer-se ouvir. O homo autistus pode ser muito divertido ao principio mas depois de um tempo torna-se uma parede com um interruptor que se acciona pelo movimento ao seu redor. O Homo Autistus tem medo de ficar sozinho e fala, falazaza e chalaceia para que gostem dele, mas não consegue ligar as palavras ao coração, não consegue suportar o silêncio necessários para que essas palavras possam ter ainda mais sentido, e, surpresa das surpresas, o seu canal auditivo está directamente ligado ao seu umbigo. Apesar de que o Homo Autistus é mais frequentemente encontrado nos seres masculinos, também muitas das características que o definem podem ser observadas em feminas. O Homo Autistus pode ser um bom amigo, mas quase nunca um bom namorado.

Espero que a sra dona Judite aceite este meu modesto e empírico contributo e que lhe possa ser de alguma forma útil para o estudo e compreensão dos espécimes que nos rodeiam.

4 comentários:

Sra. D. Judite disse...

Querida Sra. D. Pilar, é com muita alegria que a vejo não apenas de volta ao abrigo, mas também e sobretudo empenhada em partilhar o progresso da sua investigação.

De facto, o Homo Autistus é um espécime muito interessante, que pode ser encontrado na natureza em diversos graus de pureza.

Pesquisas empíricas clássicas revelam a existência de um número não negligenciável de Homo Autistus Autistus, o espécime arquetípico desta categoria - que, como muito bem referiu, se caracteriza pelo facto de não necessitar de estímulos dos interlocutores para prosseguir o seu dilúvio palavroso.

Todavia, investigações mais recentes têm vindo a explorar a proliferação de espécimes 'intermédios', que combinam caraterísticas de vários tipos. O trabalho do grupo de Haia tem destacado, por exemplo, a perigosidade do Homo Autistus Sensibilis, que camufla a sua incapacidade comunicativa sob a pele de uma discursividade metafórica capaz de induzir o interlocutor a pensar que se encontra perante um indivíduo sensível e empático.

Aproveito, aliás, para divulgar o apelo do Grupo de Haia e pedir às minhas boas amigas que contribuam com as vossas investigações para este corpus teórico. Tudo pela ciência, naturalmente.

Sra D. Susette disse...

Colegas, carissimas colegas...
eu começo a achar que ando a estudar este tipo de espécime com DEMASIADA proximidade... acho que a isenção do meu olhar ciêntífico pode estar para sempre comprometida...
... Help!

Sra D. Aurora disse...

Tenho este cromo repetido. Cá para mim é a produção em série mais bem sucedida da humanidade.

Sra D. Pilar disse...

Homo Autistus Sensibilis, estarei atenta sra dona Judite,e intuo que nao seja dificil recolher alguns dados para esta tao importante investigaçao.