quarta-feira, 23 de junho de 2010

Um minuto de atenção

Minhas queridas senhoras,
Tenho assistido em silêncio aos balanços das nossas amigas que fazem anos por agora e às notícias de quem anda menos aparecida, e constato com estupefacção que todas vós foram acometidas de uma perigosa síndrome (confirmei e é um substantivo feminino, sim senhora), cujo mais evidente sintoma é a honestidade radical sobre a idade.
Ora as minhas amigas já deveriam saber por esta altura,que não há nada mais desagradável do que a verdade sobre um tema tão sensível quanto o ano de nascimento. A Escola de Ayamonte, que se tem dedicado a estudar o que chamam de 'síndrome do envelhecimento discursivo', tem publicado inúmeros estudos sobre as consequências perniciosas da assunção pública da idade biológica.
O trabalho dos investigadores da Escola de Ayamonte baseia-se na observação de duas coortes: a coorte A, constituída por pessoas com mais de 30 anos que revelam a sua idade real, e a coorte B, constituída por pessoas da mesma classe etária que divulgam uma idade menor do que a real.
Os estudos publicados revelam que as pessoas da coorte A apresentam um número muito significativo de queixas diversas (melancolia, dores nas costas, ejaculação precoce, halitose, para citar apenas algumas), e parecem ficar enredadas em exercícios de matemática existencial inútil ('com esta idade e que fiz eu da minha vida?'). As pessoas da coorte B, parecem convencer os seus corpos que ainda não chegou a hora da unha encravada e descobrem um tempo imenso à sua frente.
Por isso, minhas amigas, toca a escolher uma idade nova. É que ainda é muito cedo para a ciática e para a alma descaída.

3 comentários:

Sra D. Susette disse...

Assim sendo, escolho os 44!
Não há nada como ver na cara do outro a estupefacção incrédula "O quê?! pareces muito mais nova..."
Sendo que, alimentados pela perplexidade, à pergunta "então, que idade é que me davas" as pessoas acabam por dar menos do que a idade realmente real, tal é o estado de desconsertamento/inveja escondida/desorientação geral.

Sra. D. Judite disse...

Minha querida Sra. D. Susette, a proposta é escolher uma idade menor do que a biológica. Compreendo a sua opção, mas não estará a minha Amiga a chamar a fibromialgia, os calores da menopausa ou o pé de atleta ao afirmar uma idade mais generosa do que a que realmente tem?

Sra D. Susette disse...

Sim, sim, eu percebi, eheheh.
Mas repare: Não é já aos 44 que vou entrar na menopausa...
E, para além disso, ao acabarem por me atribuír - derivado ao tal estado perplexo - uma idade inferior à verdadeiramente verdadeira, eu acabo - hiperbólicamente - por atribuír a mim própria - por via de terceiros - uma idade inferior à que realmente tenho...
Não é simples?!?!?!
Hihihihihih!