quinta-feira, 24 de junho de 2010

Negritude na ordem do dia

Nasci preta, num longínquo país de África.
Sempre me irritou aquela coisa de não se chamar pretos aos pretos, de se chamar africano, pessoa de raça (?), de cor , negro, pardo, etc. Tudo, menos preto.
Sempre me chamei e sempre quis ser chamada de preta, ignorando e ignorante de todas as correntes antropológicas e sociológicas existentes à volta do assunto.
Acho que esta foi a primeiro forma que encontrei de assumir a minha negritude. Infantil, patética, pouco politizada, deselegante, muitos dirão.
Habituei-me desde pequena a viver entre os brancos, a ser a diferente entre os demais, a preta da turma, a preta da faculdade, a preta do trabalho.
Nos sítios e locais onde circulava não existiam pretos, para além da minha família, está claro.
No entanto, sempre tive um fascínio enorme por África, sempre me senti orgulhosamente preta. Tudo meio bacoco, tudo muito pouco elaborado. Nunca reflecti seriamente sobre o que é ser preta, sobre o racismo, sobre se fará sentido assumir uma identidade negra.
Agora, por diversos motivos, mas especialmente devido ao facto de estar envolvida com um homem preto (Uah!!!), estas questões têm surgido fortemente. Dou por mim a perguntar se serei assim tão preta? Isto porque à força de tanto lidar com brancos, percebo que os pretos, aqueles com quem em tese eu sempre me identifiquei, na prática, são os outros. Esta constatação para além de estranha e curiosa, obriga-me a confrontar-me, mais uma vez, com as grandes ironias da vida.
Senhoras do Abrigo, a próxima, está prometido, é sobre o meu homem africanus experientus!

4 comentários:

Anónimo disse...

querida sra d.vitória

seus pensamentos são tudo menos bacocos
iniciáticos talvez mas
muitíssimo interessantes

beijos amigos desta sua amiga do peito

ou deverei antes dizer "desta sua amiga de cujo peito a d.vitória é muito amiga" eheheh

Sra D. Aurora disse...

querida Sra. D. Vitória: estou com a 'amiga do peito'. Os seus pensamentos não são bacocos, são o começo de um novo caminho que está a fazer.
E ainda bem que o iniciou. Já não são só as nossas discussões teóricas sobre o que é ser preto ou branco; agora, com o seu envolvimento com o homo africanus experientius, todo um novo mundo de reflexão se abre à sua frente.
Cá estaremos, para o que der e vier.

Sra D. Susette disse...

...Quem sabe se daqui a uns tempos não veremos nascer em si uma magnífica Fémina Africanísticis Hiper-Experientíssimas?

http://abebedorespgondufo.blogs.sapo.pt/ disse...

Gostei do blog.