domingo, 11 de abril de 2010

cabedal

Está uma senhora a levar a sua vida tranquila, dias a seguir a dias, meses que se empilham, aqui e ali uns quantos acontecimentos mais ou menos memoráveis que se espetam no calendário e impedem que os anos sejam iguais uns aos outros, a vida corre ou anda ou rasteja consoante lhe dá na veneta, mas ainda assim uma senhora aguenta-se na curva, sabe quem é para onde vai e qual o seu papel no universo ou qualquer coisa perto disso. Até que num dia no meio de outros dias, por uma razão qualquer que se calhar não importa nada, essa senhora descobre que não tem cabedal para isto. É que, minhas amigas, isto de andar à deriva armada em cartógrafa de si mesma tem muito que se lhe diga. De repente uma ilha onde se esperava uma península, um mar onde se supunha um deserto, um vulcão onde se imaginava um glaciar.
E duas mãos vazias sem saberem o que pôr no mapa.

2 comentários:

Raquel disse...

Sradaurora, como a percebo!A estas fases em que aparentemente não se tem nada (ainda tudo se pode escrever na folha em branco) mas que tudo se pode desejar e sonhar, chamam os senhores doutores mestres da psique humana, o período da mão vazia. Ora, ai está a sua bonita frase: e duas mãos vazias sem sabem o que pôr no mapa.

Sra D. Susette disse...

Querida Senhora!
Também eu a compreendo bem.
E quando não sabemos o que colocar no mapa constatamos que, afinal, o método mais rudimentar de navegação é no fim das contas o mais complexo: Navegar à vista.
Sem cábulas, sem planos, sem preparações: Apenas nos podemos soocorrer daquilo que trazemos connosco...