quarta-feira, 28 de abril de 2010

Aurora

A Aurora que me deu o nome nasceu hoje, há noventa anos atrás. Foi professora primária, ensinava piano na aldeia onde viveu, enterrou marido, pais, irmão, sobrinha, viveu sozinha com uma empregada gorda num quarto andar com vista para o rio. Herdou dívidas e nunca se queixou de nada nem ninguém, decidiu ir viver para um lar porque não queria ser pesada para as sobrinhas e tenho a certeza que tinha longas conversas com deus. Rezava e não era beata, era boa e nunca chata, tinha uma paciência e amor infinitos, escrevia todos os dias no seu diário e oferecia versos quando as pessoas de quem gostava faziam anos.
Um dia disse-lhe 'é a pessoa mais boa que já conheci'. Ela sorriu e contrariou-me.
- Não digas isso. Às vezes tenho maus pensamentos.
Lembro-me dela muitas vezes e vejo-a a sorrir, nova como nunca a conheci, numa fotografia a preto em branco na minha parede.

2 comentários:

Adriana Vargas joyas disse...

que linda esta história, e que linda deveria ser esta senhora.

gostei muito do vosso blog.

Sra D. Susette disse...

Querida Dona Óróra,
E não é que na minha vida existia uma "Aurora" chamada Celeste?!
Isto a vida tem coisas.