quarta-feira, 26 de maio de 2010

a arte da fuga

foto de Fritz Goro

de que andas tu a fugir?

andamos todos a fugir de qualquer coisa (do pai, da mãe, da memória do tempo em que éramos pequenos ou nem por isso, do primeiro amor, do último amor ou do amor simplesmente, da felicidade, da morte em vida, da vida à beira da morte, do falhanço e da vergonha, de espelhos que nos devolvam a imagem do que somos ou do que queremos ser ou daquilo que nunca seremos).
e afinal a pergunta de que andas tu a fugir? é mais funda do que poderia imaginar.
afinal a pergunta fica a cozer dentro de ti, umas vezes em lume brando, noutras num lume alto que quase queima.
e eu não posso mais do que assistir em silêncio à fogueira que te consome.

4 comentários:

Anónimo disse...

foda-se...

bonito e "na mouche".

parabéns pela temível clarividência, e por não assistir em silêncio - afinal de contas uma posta é um intervalo no silêncio, não?

Sra D. Aurora disse...

obrigada, anónimo.
mas a verdade é que uma posta é apenas uma posta. Nem mais nem menos.

Sra. D. Vitória disse...

Uma posta é apenas uma posta, concordo com a Sradaurora, mas no universo vasto do mundo das postas, esta é daquelas tipo 'murro no estômago'. Gostei!

Sra D. Susette disse...

Ai, dona Aurora.
Todas conhecemos bem a capacidade hipnótica do fogo.
Pelo fio de tantas noites nos perdemos a fixar as labaredas que sempre iguais mudam constantemente...
Tome um grande abraço de quem se senta de vez em quando consigo à volta dessa fogueira e sabe dos perigos que ela tem.