Só a ideia de escrever sobre isso me põe doente.
Mesmo antes de tocar na coisa própriamente dita, mesmo antes de chegar a vislumbrá-la, encolho-me de nojo.
Mas não evito a inveja e o instinto homicida.
Sentimentos de repulsa rasgam-me e através destas feridas alguém aproveita para entrar.
Acabou-se a luz do espírito.
A mulher alimenta-se das crias agarrada à fantasia de lhes poder sobreviver.
Elas aproveitam as poucas gotas do seu leite para as últimas lições.
Agarrada ao irmão, escava túneis pela calada conseguindo obter todos os favores.
A vida inteira lhe soube esfregar humildemente o ego como lâmpada de Aladino
Realizados todos os desejos,
Confunde o génio da lâmpada com Salomão.
Mas Salomão, que estende o olhar para além de todas as pessoas, tomará uma decisão que a ninguém satisfará inteiramente.
Porque a verdadeira justiça nunca recompensou ninguém. Reconduz coisas e pessoas aos seus devidos lugares e muito pouca gente nesta vida está satisfeita com o lugar que lhe calhou.
Eu própria, também já tomada pela doença da família, me perco em solipsismos doentios que em nada me ajudam, agravando apenas uma horrível sensação de abandono.
Fadada a esta condição de filha adolescente, eternamente corroída pela inveja e pelo ciúme.
Não sou eu também capaz de estar à altura.
E pergunto-me se serei algum dia mais qualquer coisa para além duma pobre adolescente em fuga.
Terei de matar toda a gente para ser capaz de existir por fim em liberdade?
A maçã nunca cai longe da árvore.
E esta trampa toda, para entretenimento dos doentes, parece não ter fim à vista.
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