terça-feira, 6 de julho de 2010

Ananazes e outras frutas

Ai, cara senhora.
O seu avô lembra-me o meu...
Também ele ouvia música - mais concretamente ópera - muito alto e numa sala especial onde as bobines de fita magnética rodavam tardes sem fim.
Nessa sala só entravam, livros, música, eu, e o meu avô.
Mas mais do que Eça, acho que o meu gostava, sim, de Camilo.
Cuja obra completa guardo numa edição preciosa de volumes pesados onde dá gosto passar a palma da mão.
Camilo e Wagner. Era uma peça, o Avô Tristão.
Cozinhava noites a fio, fechado na cozinha, apanhando ataques de fúria se alguém tentava entrar.
Andou fora de casa 17 anos para ir viver com a amante, regressando depois, a pedido da minha mãe, ao plácido seio familiar.
Também jogava xadrez,
Não aquecia o Conhaque no radiador.
Escrevia gags cómicos para a rádio, editava fanzines humorísticas clandestinas.
Tirava fotografias esquecendo-se de meter o rolo na máquina.
Ressonava como ninguém, com assobio e tudo.
Morreu de comer, de beber, de andar à bulha e tratar mal quem gostava dele.
Muitos anos depois, conversando com a minha avó, já no Lar, ela vira-se para mim com um sorriso regalado no rosto:
"Ora vês, e eu ainda cá estou!"
A minha avó Celeste.
A minha tão querida Avó.

Mas permanece por desvendar, a razão deste calor ser de Ananazes.

1 comentário:

Sra. D. Celeste disse...

Credo Sra.D.Susette!
Espero que não seja maldição para o nome Celeste que não me apetece nada ficar á espera do meu amor 17 anos até que ele se digne a....

Um ano já me parece tantissimo tempo uffffff....e pelo andar da carroagem....que o dIABO seja surdo, cego e mudo.

Mas tudo isto me inspirou bastante e vou eu também escrever uma posta sobre os meus avôs.