E então penso nas roupas e sinto que é apenas através delas que consigo ser a custo uma coisa imponderável.
Aí suspensa
Sou, através de uma estranha combinação mágica de cores e de tecidos e de calças e de botas e de camisolas e casacos aparição dum ser imaginado
Mulher dos meus sonhos
Criada e recriada obsessivamente num espelho interior, escondido, inalcançável espelho da infância
Assombrando-me pulsões absurdas e fetiches
Nessa busca incessante através dum olho que não consegue ver
Olhar impossível sobre si mesmo
Nunca chego a reconhecer-me inteiramente ao espelho.
E tento sempre uma nova combinação de coisas, sobrepondo um corpo recriado sobre o meu cadáver.
Ocasionalmente corto o cabelo sempre ao espelho. Há anos que ninguém lhe toca desta forma a não ser eu. O cabelo é sagrado. De cada vez que fui ao cabeleireiro senti sempre que pequei
E transgredi na religião da minha imagem.
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