quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Copo D'Água - Tempestade

 
Falta de paciência para festas. 

Estou hoje reduzida a uma mulher em estado-de-sítio. Tufão de ideias espalhadas à pressa sobre a superfície ténue da identidade.

Rodeada de estranhos bem dispostos e um pouco hipócritas. Pessoas que não conheço.

Apesar disso nunca me falta conversa circunstancial entre folhos e gesticulações exageradas.

Mas a luz mais bela brilhou sobre o horizonte do mar devorado pela penumbra, 
E de seguida um imenso jogo de luzes artificiais para afugentar o medo coletivo do silêncio

Balançando como um pequeno barco ao longe esquecido no escuro da tempestade.

Nuvens de perfume e suor misturam-se entre-portas - Lá fora o chão é varrido impiedosamente pelo vento litoral

Crianças transpiradas gritam e correm e comem e escorregam e choram e comem novamente 
As paredes forradas a cortiça absorvem as vozes das pessoas.

E os homens comem e comem e bebem e empanturram-se e engasgam-se e engolem e limpam as beiças a guardanapos de papel minúsculos.

Casamento caro e sobrevivente.

Finalmente  serão as crianças a partir tudo exalando um odor ténue a comida e fezes, e rebentarão todos os balões da sala
E arrancarão sôfregas os cortinados e toalhas e farão uma fogueira com os nossos corpos e cuspirão e cantarão e correrão saltando e gritando e despindo e pintando, olhando com espanto alienado o resultado monstruoso das suas ações.